sexta-feira, 23 de março de 2007

Memórias e Trevas...

A matéria de capa do Correio da Bahia do dia 04 de setembro de 2006 trouxe como destaque o aniversário do “senador ACM”. Até aí não há novidade, afinal, o jornal sempre foi usado, principalmente a editoria de Poder, para os desmandos de Toinho Malvadeza, como é conhecido pela oposição. Mas desta vez... Um percentual considerável de toda a edição do dia 04 de setembro foi de homenagens ao Senador. Se não todas, a maioria das cidades interioranas teve espaço para publicar notas de felicitações.

Justamente em época eleitoral, não só os prefeitos pefelistas, mas candidatos da coligação manifestaram a “importância” política do senador baiano. Daí, parando para pensar no que se tornou a mídia após a “privatização” dos veículos, este acontecimento torna-se algo compreensivo. Primeiro, porque Antônio Carlos Magalhães é dono* da maior empresa de comunicação do Norte e Nordeste, a Rede Bahia, detentora de 7 canais de televisão (Tv Salvador, Tv Bahia, Tv Santa Cruz, Tv Sudoeste, Tv Subaé, Tv São Francisco, Tv Oeste); 2 estações de rádio (Globo FM, 102,1 FM Sul), 1 veículo impresso (Jornal Correio da Bahia) e 2 sites de entretenimento (Ibahia.com; Icontent).

Segundo, porque ACM é um dos personagens mais influentes do Estado e, sabe-se lá de que forma, responsável pela eleição de muitos candidatos políticos. Toda majestade um dia perde o trono. Agora, com a derrota de seu candidato ao governo do Estado e a vitória da oposição; “painho” ganha destaque na mídia nacional de uma forma como ele nunca havia sido lembrado: “vitória histórica de candidato petista acaba com 16 anos de carlismo na Bahia”. E quem disse que alguma coisa mudou? Aproveitando o segundo turno das eleições presidenciais, o Correio da Bahia fechou os olhos para a vitória de Jacques Wagner, governador eleito do Estado, e ampliou o apoio público ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, atacando o candidato e presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. E volta a velha história de sempre. O Correio da Bahia continua sendo um veículo de promoção da coligação ACM.
*De acordo com a revista Carta Capital, n435, o senador não aparece como dono formal da Rede Bahia, porém sua esposa, Arlete Maron de Magalhães é gerente e detentora de 9 cotas da empresa. Seu filho primogênito ACM Filho e seus netos Luis Eduardo Magalhães Filho e Carolina Magalhães possuem, juntos, quase três milhões de cotas. A interpretação agora é sua....

Xonga

Enquanto os homens exercem seus podres poderes...
Aniversário de Toinho na Bahia
Cada cidade faz sua homenagem
Mostrando que o Correio da Bahia
Não passa de politicagem
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Ainda que tivesse homenagem
Cabia respeito aos leitores
Mesmo sabendo que é sacanagem
A publicação pelos editores
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ACM é dito coronel
Com certeza ele o é
Montando um apanhado de papel
Acha que o povo é mané
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Agora quero ver
Coronel perde reinado
Memória ele vai perder
Para esquecer o fracassado
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Amigo de velhice
Com Paulo Souto acreditou
Manter sua canalhice
Só que ele... se ferrou

quinta-feira, 22 de março de 2007

A mesmice da Informação

Datas comemorativas, fatos históricos e temas como mulher, negros e homossexualidade estão sempre na pauta dos veículos de comunicação. Porém, ano após ano, estes temas são tratados da mesma forma, sem uma sensibilidade diferente que nos traga algo de novo sobre os assuntos pautados. O que parece ser informação, não passa de notícia reciclada. O que parece ser novo, é velho e já foi utilizado.

Em um único dia, duas vítimas da reciclagem de notícia. Quinta-feira, 12 de outubro de 2006, Dia das Crianças e Dia de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil. Os jornais noticiavam manchetes repetidas sobre o movimento nos shoppings, aumento da venda de brinquedos, o incremento financeiro na indústria infantil e sobre a peregrinação de fiéis católicos ao Santuário de Nossa Senhora, no Vale do Paraíba em São Paulo.

As matérias mostravam a alegria de crianças que ganhavam o brinquedo novo, o empresário sorridente pelo aumento do faturamento, a angústia daqueles que deixaram para comprar o presente de última hora e enfrentam filas quilométricas. Os textos também traziam o sofrimento de peregrinos que saem do Nordeste para rezar no altar de Nossa Senhora, o peso da cruz de um fiel e as bolhas nos pés, “cultivadas” com suor e fé.

Apenas o Correio da Bahia, na edição de 12 de outubro, trouxe algo diferente, mas não deixou de fazer as matérias “chavões”. O jornal publicou uma matéria sobre a violência contra as crianças negras e pobres, trazendo números que mostra um Dia das Crianças diferente de todos os outros vistos nos jornais e na tevê.

Os ataques ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001 passou a ser uma destas “datas comemorativas”. No dia em que se completaram cinco anos do atentado terrorista, os jornais trouxeram as mesmas fotos do momento em que o segundo avião choca-se com a torre e os textos trouxeram os de sempre, números de mortos, aqueles que não morreram por pouco ou aquilo que muitos já viveram, a dificuldade para entrar no EUA e o preconceito com os islâmicos. Poucos fizeram referências a Bin Laden, ao fundamentalismo islâmico ou a política adotada por George W. Bush, que acabou por desencadear tal terror.

As notícias que tratam destas pautas “temáticas”, em sua maioria, nunca trazem algo de novo. As pautas são tratadas como produtos, das empresas de comunicação e não trazem nada de diferente do que foi produzido no ano anterior. Parecem ser produzidas como que uma linha de produção fordista, onde tudo é igual. Mudam-se apenas os personagens, o tempo, os números, mas a essência é a mesma. A pauta é a mesma, tudo bem, mas o foco tem que ser o mesmo? Por que fazer sempre igual? Onde entra o novo, o diferencial? Será que nenhum repórter pode fazer diferente?
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Abre Aspas - Marcelo De Trói
“O jornalismo, enquanto processo industrial e de consumo, raramente consegue fugir da tal agenda anual de compromissos com a ‘mesmice’. O que influencia essa atitude midiática na minha opinião é a incapacidade do jornalismo de ocupar a esfera pública da comunicação social (sua principal função), transmitindo matérias de interesse público real; outra coisa é o fato de o jornalismo estar seriamente atrelado aos departamentos comerciais das empresas jornalísticas, ou seja, já existe uma expectativa tanto dos empresários da comunicação quanto de seus clientes de que os anúncios para o “dia das mães” gere algum tipo de matéria idiota sobre comportamento e sobre a especulação do sucesso da economia com as vendas, o “business”.
Junte-se a isso, a mentalidade medíocre da sociedade do consumo, e o desinteresse pela discussão de assuntos de relevância, porque em geral são chatos e dão dor de cabeça. Imagine se o jornalismo passasse um bom tempo discutindo como resolver o problema da saúde e da educação no Brasil? Também é preciso não abandonar o factual, a notícia, a informação, principal pilar do jornalismo.
Para driblar tudo isso é preciso inteligência para se transmitir à informação, princípios éticos e comprometimento com o ‘público’: repórteres e editores devem ser comprometidos e engajados, mesmo que isto custe censura ou perda de emprego”.
Marcelo de Trói é Jornalista, free-lancer e editor
do Caderno Aprovado. Realiza pesquisas
na área de imagem e som.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Apresentação

Baseada na prática do Media Watching ou crítica de mídia, a Leia Mídia - A imprensa revista nasceu como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos formandos em jornalismo pela Unibahia, são eles: Marvin Kennedy, Priscila Figueira e Manuela Laborda.
A primeira publicação foi uma revista, com 36 páginas, que se tornou pioneira na experiência de observação de mídia no estado da Bahia.
Este blog será um espaço onde jornalistas e estudantes de comunicação possam debater a mídia, com foco especial na mídia baiana, e contará com a colaboração de colegas jornalistas, a exemplo de Yuri Almeida, o Herdeiro do Caos.
Se quiser saber mais sobre esta equipe, visite nosso orkut: Leia Mídia ou nos escreva: revistaleiamidia@gmail.com.